domingo, 20 de junho de 2010

On my own

E agora eu estou sozinha de novo nenhum lugar para ir, nenhuma companhia, sem um lar, sem um amigo, sem uma face para dizer oi, mas agora a noite está próxima e eu posso imaginar que ele está aqui. Algumas vezes ando sozinha à noite quando todos estão dormindo eu penso nele e então fico feliz com a companhia que mantenho. A cidade vai para a cama e eu posso viver dentro de minha mente por mim mesma fingindo que ele está ao meu lado. Totalmente sozinha eu ando com ele até amanhecer. Sem ele, eu sinto seus braços a minha volta e quando me perco no caminho, fecho meus olhos e ele me encontra. Na chuva, a calçada brilha como prata, todas as luzes são nubladas na chuva. Na escuridão, as árvores são cheias de luzes estreladas e tudo que eu vejo é ele e eu para sempre e sempre, e eu sei que isso é só meu pensamento que eu estava falando comigo mesma e não com ele. E embora eu saiba que ele é cego eu continuo a dizer que existe um caminho pra nós dois. Eu o amo, mas quando a noite acaba ele se foi, o rio é só um rio, sem ele o mundo ao meu redor muda. As árvores são nuas e em qualquer lugar as ruas são cheias de estranhos. Eu o amo, mas todos os dias estou aprendendo, toda a minha vida eu só tenho fingido. Sem mim, o mundo dele continuará acontecendo. Um mundo cheio de alegria que eu nunca conheci. Eu o amo, eu o amo mas só pra mim mesma.

On my own - Les Miserables

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Faz de conta

...sentou-se para descansar e em breve fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava de morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus,..., faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e a luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranqüilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro...
- Clarice Lispector

Querer demais

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.Como eles admiravam estarem juntos!Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
- Clarice Lispector

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ultra Violeta

Às vezes sinto como se eu não soubesse, às vezes eu tenho vontade de confirmar. Eu queria entender errado Não posso ser forte sempre e o amor não será longo.
Oh baby, não chore. Oh, criança enxugue as lágrimas de seu olhos Você sabe que eu preciso que você seja forte e o dia é tão escuro quanto a noite é longa. Me sinto como lixo você me faz sentir limpo, eu estou no escuro não posso ver ou ser visto. Amor, amor, amor ilumine meu caminho. Você enterra seu tesouro onde não pode ser achado mas seu amor é como um segredo que se espalhou. Há um silêncio que vem de uma casa onde ninguém pode dormir, eu acho que é o preço do amor, eu sei que não é barato. Eu me lembro Quando nós podíamos dormir sobre pedras, agora nós deitamos juntos em sussurros e gemidos. Quando eu estava completamente confuso e ouvi ópera em minha cabeça, seu amor foi como uma lâmpada incandescente Pendurada em cima da minha cama.

Eu sou a sua luz, não vê que precisa de mim ?
Não vê que é a mim que tanto procura ? Estive do seu lado
mas você nunca esteve do meu de verdade. Agora você esta confuso, perdido e no escuro
eu te guiarei na escuridão. Com meus pés abrirei caminhos.


Baby, baby, baby, light my way.
Oh, come on, baby, baby, baby,
light my way.
- Ultraviolet (Light My Way) - U2
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